O útil é... legalmente dúbio!

Ontem, ao dar uma olhadela pela applestore deparei-me com  uma aplicação, no mínimo, de legalidade duvidosa, assim como se torna duvidoso o sistema de pagamento das scuts em vigor.

Vejamos: a aplicação em causa promete aceder ao serviço fornecido pelos CTT para verificação de montantes em dívida nas scuts, para veículos sem dispositivo. Ora... que legitimidade tenho eu para no meu telemóvel verificar, apenas pelo uso da matrícula do carro dele, se o meu "vizinho" andou ou não pelas scuts?

Assim, como não faz sentido que qualquer um, com uma matrícula num papel, se apresente nos CTT pedindo "Olhe, faz favor! Veja-me aí se já tenho montantes a pagar de scuts"!! Sem qualquer identificação pode saber se o vizinho foi ao Porto, a Viana ou a Aveiro. Será isto legal? Onde andam as vozes tão preocupadas com a reserva da vida privada? O Estado não pode saber onde eu ando, mas o meu vizinho pode saber onde eu fui! Isto é fantástico!

Agora, com a comodidade do telemóvel isto chega a ser genial! Vamos todos virar cidadãos exemplares e sentadinhos na esplanada do café, olhando para as matrículas de quem passa, poderemos alertar "Ó xôr Zé, você deve 3€ de pórticos das scuts!! Que andou você a fazer lá para o Porto? Você que diz que nunca sai de casa, hein??!!"

E a reboque disto podem levantar-se muitas outras questões: imagine-se por exemplo um sujeito que, em jeito de filme, ande a seguir as pisadas de outro. Caso o "seguido" não tenha via verde, o "seguidor" pode facilmente controlar-lhe as passadas com um telemóvel e uma aplicação destas. É que nos CTT ainda tem que dar a cara como pretenso pagador, aqui não, basta ter curiosidade!

E dirão alguns... "ah e tal, não me incomoda muito, tenho via verde"! Eu também tenho! Mas incomoda-me a forma como os nossos dados, que julgamos guardados, andam por aí acessíveis a quem quer calha. Pergunto-me: através de que ligação é que esta aplicação consegue ir buscar os dados que a completam? Quantos mais terão acesso a dados que julgamos não estarem à mão de semear?

Preciosismos jurídicos à parte... comprova-se que o que o nosso Estado quer é dinheiro. 

Nota: existe também para Android.