Começo a atingir o limite no que a notícias de indisciplina na sala de aula diz respeito.
Começo mesmo a ficar enjoado ou, diria mesmo, revoltado (não, não vou sair para a rua e tentar bater em ninguém, nem sequer "grafitar" muros). Hoje vou apenas opinar com uma profunda indignação sobre o sensacionalismo instalado em torno da indisciplina nas escolas.
Senão vejamos,
Nas escolas estão crianças, adolescentes, jovens e adultos! Crianças, adolescentes, joves e adultos esses que têm famílias, que têm casas, que têm comunidades em que se integram. A escola não é um "ecosistema" fechado, não é um mundo à parte, não é um guetto, nem tão pouco uma realidade virtual onde as pessoas se tranformam e revelam heterónimos em flashes de esquisofrenia.
Assim sendo, parem de noticiar a indisciplina na sala de aula ao jeito de "fera ataca tratador no jardim zoológico de Lisboa"!
A escola é apenas uma parte de um todo!
Essas crianças, adolescentes, jovens e adultos que têm atitudes indisciplinadas não as têm só nos estabelecimentos de ensino, têm-nas por toda a parte: são agressivos para com os professores, para com os colegas, para com os conterrâneos e até mesmo para com os próprios pais!!
Sim, para com os próprios pais!!
É claro que é sempre mais fácil olhar para a televisão e pensar "Oh, que mau aluno. Bateu no professor!" - é reprovável, mas é mais fácil de suportar a ideia. É mais fácil pensarmos cobardemente que esse "indisciplinado" só é assim fora de casa, do que encararmos a dura realidade de um país de valores degradados onde os pais são as primeiras vítimas das criaturas às quais um dia deram a vida.
A Geração "Mp3" é apenas um produto educacional do regime da velha senhora! É apenas o resultado de uma geração de pais que cresceram sobre a opressão do "não faças porque vais preso" e "não faças que é pecado". Uma geração que deu aos filhos tudo aquilo que não teve, uma geração que pensando que todas as privações eram sinónimo de repressão acabou por deixar os seus descendentes entregues á sorte de crescer sem barreiras.
Caminhamos num rumo sem retorno a médio prazo para uma "des-socialização" do indivíduo! Desde tempos longínquos o ser humano habituou-se a viver impondo limitações pessoais em prol de uma ordem social, de uma possível vivência em comunidade. Abdicou do "Eu" em prol do "Nós".
Aquilo a que assistimos hoje é a uma regressão, a uma tentativa reprovável de viver em comunidade abdicando do "Nós" em função do "Eu". É um querer viver em sociedade sem regras socias, apenas com um "Eu quero, Eu posso, Eu mando".
Será tempo de repensar se afinal ainda queremos viver em sociedade com tudo o que isso implica na existência de uma ordem de valores e regras de convivência, ou se preferimos regredir para um estado natura primitivo de auto-suficiência (note-se que até os animais irracionais acabam por ter uma ordem social no seio dos seus grupos).
O que não podemos nunca é continuar a dizer que vivemos em sociedade vendo o mundo em torno do egocentrismo.
O problema hoje é bem mais amplo que uma simples indisciplina no seio escolar.
Vivemos numa indisciplina social! Quem disser o contrário mente ou é cego!
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