quarta-feira, 28 de novembro de 2007

"quanto do teu sal, são lágrimas de Portugal"


Se eu vos falasse do pôr do sol visto da minha varanda... não perceberiam nada! Optei por mostrar!! É ...



Hoje, para não variar, vou falar do mar! E vou falar, apenas para dedicar este post a alguém que conheci algures em terras alentejanas, nos últimos dias de Agosto! Alguém cuja primeira conversa revelou uma pessoa fantástica e cujas semelhanças em inúmeras actividades que tínhamos em comum, de modo particular o voluntariado, levaram a uma “cavaqueira” animada e construtiva que se prolongou durante horas, amiúde interrompida por mais uma “geladinha”!

E assim começo:
Cara amiga!
Ainda tu tentas falar dos sentimentos que o mar desperta e já eu percebi o que tentas em vão explicar! Para ti, para mim, para muitos outros, o mar não é algo para ser descrito, é algo para ser contemplado, é algo para ser sentido, algo para ser ouvido!
Lembras-te da letra do Abrunhosa? Eu recordo-ta “e voas sobre o mar, com as asas que eu te dou”! É esta sensação de magia que o mar desperta,a vontade de voar e levar a nossa mente a percorrer milhas e milhas até ao limite da nossa vista! Este exercício é impossível de fazer olhando para terra, pois o aglomerado de construções que nos limita o campo de visão limita-nos também os sonhos. Olhando o mar sentimos as liberdade de alguém que se atira no vazio, não no vazio da superfície do mar, mas no vazio da nossa “pequenez” perante a imensidão do mar.
Somos ADN de navegadores, de conquistadores, de poetas! Somos sonhadores, aventureiros, destemidos e responsáveis. Somos cinza de cavaleiros conquistadores que enfrentaram batalhas árduas conquistando terras! Mas em terra... perante pequenos homens, ganhamos uns míseros quilómetros! Já diante do mar, desafiamos Neptuno, cruzamos o mundo e baptizamos terras! Levamos o nome de Portugal aos quatro cantos de um mundo redondo!
Por isso... olhar o mar, sonhar o mar, sentir o mar... nada tem de extraordinário, nada tem de mágico. Se não sentirmos o sol que nos queima como outrora queimou os nossos antepassados, se não sentirmos a brisa que passa e nos aconchega, se não ouvirmos as ondas que num movimento incessante tombam e levantam... porque a vida é isto mesmo, uma sucessão de quedas e levantamentos, então, olhar o mar é um gesto banal.
É este mar que nos faz sonhar, que nos lava a alma, que nos dá paz... que acima de tudo nos faz sentir pequenos! E é do mais pequeno de nós, do mais íntimo da nossa humildade, que se faz a nossa capacidade empreendedora, de quem olha o poder da natureza e se sente tão minúsculo, mas simultaneamente com tanta coragem para honrar a memória d”aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando”...

E porque não esquecerás certamente aquela minha sugestão de Fernando Pessoa... eu revelo aqui o porquê:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”

in Mensagem

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