O passado fim de semana ficou indubitavelmente marcado por duas notícias: os pescadores das Caxinas e o congresso da ANAFRE. Se pela primeira damos graças a Deus por se terem salvo depois de três dias rodeados de água, dos segundos arrisco dizer: mandem as bóias porque água já houve quem metesse.
Sempre julguei que neste momento os autarcas pudessem ser parte da solução, afinal está neles a maioria do problema.
Não deixa de ser caricato (e prometo ser comedido nas palavras, por respeito a todos aqueles que, não obstante terem entendimento diverso do meu, me merecem o maior respeito) ver que esta gente que durante anos recebeu fundos comunitários através dos mais diversos programas, para desenvolvimento das ditas "suas terras", nunca tenham questionado a perda de independência nacional e agora, assim de repente, lembraram-se que é mais importante a soberania das freguesias do que a nacional. "E esta ein?"
Mas é este um decalque perfeito daquilo que é, neste momento, o sonho europeu. Somos todos europeus, livres na circulação de pessoas, bens e capitais... mas se eu puder promover os meus produtos para tramar os espanhóis, pois quero lá saber do bem comum. Somos assim uma espécie de "Europa das capelinhas" - rezamos todos ao mesmo "d€us" mas se a minha capelinha for mais bonita que a do vizinho tanto melhor.
Pois nas freguesias parece passar-se o mesmo. Somos todos "um" quando se trata de campanhas eleitorais, todos a partilhar o palco do candidato à Câmara Municipal... mas se falarmos em unir-nos ali aos vizinhos do lado (aqueles que estavam no palco connosco) bem... aí a coisa muda de figura. Aí não há "Malafaia" que nos valha. Juntar-nos a essa gente é coisa do mafarrico. Vamos perder a nossa identidade - sim porque o nosso vizinho do outro lado da rua tem uma identidade cultural muito diferente da nossa.
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Tome-se por exemplo a rua 27 de Maio (Marinhas ou Esposende? A rua a sul do Hotel Suave Mar)! Onde anda a diferença de tradições/cultura/história dos que moram do lado sul para os que moram do lado norte? Talvez na visita pascal! De um lado passa o compasso pascal de Marinhas, do outro o de Esposende. Bem... está visto que esse argumento de "conflito social" não tem aplicação aqui.
E desde quando é que as tradições não podem ser conciliáveis?
Haverá porventura alguém do lugar de Rio-de-Moinhos (Marinhas-Esposende) que não vá à festa do padroeiro S. Bartolomeu (freguesia de Mar-Esposende) como se fosse sua? Que não fosse ao "banho santo" e à feira de S. Bartolomeu? Não creio.
Morreríamos se Marinhas e Esposende fossem uma só? Também não creio... afinal de contas, se muitos não morreram durante estes anos foi por terem ido ao médico ao Centro de Saúde e Hospital de Esposende.
E no caso particular de Marinhas, para quê tentar dividir agora o que deixamos unir aquando da passagem de Esposende de vila a cidade? Se aceitamos integrar a cidade dissemos de forma implícita que a nossa freguesia, no formato "orgulhosamente sós" deixava ali de existir.
Ou será que afinal para o povo isto é quase irrelevante?
Permitam-me aqui que faça uma nota porque já li algo num sentido estranho! Eu nunca fui autarca mas isso não me confere menor legitimidade para falar sobre este assunto perante aqueles que o foram. E não tenho menor legitimidade porque a única utilidade que me recordo desde os meus 18 anos de uma Junta de Freguesia foi pedir uma certidão dizendo que era daquela freguesia para me filiar num partido político, e isto porque ainda não tinha cartão de eleitor à data. De resto... e mais uma vez reafirmando o meu respeito por quem trabalha nesses locais que ainda existem em prol das freguesias, não fiz lá nada que não pudesse ter conseguido junto de uma Câmara Municipal. Aliás, frequentemente ouvi expressões do tipo "não podemos fazer mais porque a Câmara cortou-nos o €€"! Não creio que essas pessoas lá se empenhem por dinheiro como às vezes são acusados, mas também não vejo nenhum fim do mundo na fusão de freguesias.
E não me digam que as Juntas fazem "mundos e fundos" porque basta passarmos os olhos pelos sites de algumas delas para constatarmos que a oferta de serviços é reduzida. E como se isso não bastasse, basta pegar nos manifestos de campanha e chegar ao final dos mandatos e verificar o que de lá foi feito e o que foi feito pelo/com as Câmaras Municipais. É que nos moldes actuais, caminhamos par ao cenário de o Presidente de Junta passar a ser o cicerone das inaugurações municipais.
E não me digam que as Juntas fazem "mundos e fundos" porque basta passarmos os olhos pelos sites de algumas delas para constatarmos que a oferta de serviços é reduzida. E como se isso não bastasse, basta pegar nos manifestos de campanha e chegar ao final dos mandatos e verificar o que de lá foi feito e o que foi feito pelo/com as Câmaras Municipais. É que nos moldes actuais, caminhamos par ao cenário de o Presidente de Junta passar a ser o cicerone das inaugurações municipais.
Não compreendo que se continue a viver no modelo administrativo do tempo em que 10 kms era o equivalente a 2h30 a andar a pé, quando hoje são 5 minutos de carro.
Não compreendo que se justifique a existência de tantas "capelinhas" com discurso de que é por proximidade, quando em plenas campanhas eleitorais os candidatos às Câmaras Municipais garantem que estarão perto de toda a gente do concelho.
Não compreendo que se diga aos jovens que o mundo está aí, aberto para ser descoberto, mas que as suas terrinhas continuam fechadas. Que se diga que podem ter amigos pelo concelho, pelo distrito e pelo país, que podem tomar café em Esposende com um amigo de Apúlia e outro de Forjães, mas que é impensável que a sua freguesia, cujos limites já se confundem com a do lado fruto do progresso urbanístico, se una à freguesia do lado em aspectos de gestão autárquica.
Quase que sou levado a pensar que eu, enquanto habitante do lugar de Pinhote, deveria exigir um órgão de gestão local, ainda mais próximo que a Junta de Freguesia - assim uma espécie de Comissão de Moradores do lugar de Pinhote (uma espécie de Comissão de Festas de S. Bento mas com funções também civis - entenda-se: contratar o Tony Carreira e rachar lenha também não tem nada de religioso)!
Enfim! Não compreendo muita coisa! Respeito mas não compreendo!
Fala-se de extinção de órgãos de gestão e há quem insista em baralhar o povo, dizendo que se vai acabar com identidades culturais... tristeza! Os moinhos da Abelheira não vão ser demolidos se Marinhas e Esposende passarem a ser uma só! Nem os pescadores da "vila" vão passar a ser moleiros!
A igreja, essa que cujo mapa das paróquias se confunde com as nossas freguesias, habitualmente apelidada de rígida e conservadora, já há muito aprendeu a gerir recursos e evoluiu: um sacerdote pode ter várias freguesias sobre a sua alçada. Já a sociedade civil... ainda precisa de "clérigo" por cada "paróquia".
E dito isto, "ainda a procissão vai no adro"... mas eu estou certo, não teria saído do congresso da ANAFRE sem ouvir o "pregador" sob pena de parecer aqueles que vão à missa mas que saem a meio por não gostar de ouvir algumas verdades do evangelho.
E em jeito de nota: Sim, sou militante de um Partido Político que por sinal está no poder. Nunca precisei do cartão de militante para pensar e também nunca precisei desse cartão para sentir que podia ou não falar. Não tenho tabus políticos nem sou apologista da política em rebanho (às vezes o pastor engana-se)! Por acaso, e só por isso, desta vez a minha opinião sobre o tema é coincidente com do partido no qual milito. Com muita pena minha ainda não ouvi nenhum dos "entendidos" sobre o assunto a falar sobre ele. Ainda não tive hipótese de agenda. Como tal, esta minha opinião é fruto da leitura da informação do governo sobre o assunto e do meu raciocínio lógico sobre a questão. Não tenho por hábito ler cartilhas partidárias, daquelas que trazem verdades "divinas" sobre determinados temas, oportunamente canonizados.
E em jeito de nota: Sim, sou militante de um Partido Político que por sinal está no poder. Nunca precisei do cartão de militante para pensar e também nunca precisei desse cartão para sentir que podia ou não falar. Não tenho tabus políticos nem sou apologista da política em rebanho (às vezes o pastor engana-se)! Por acaso, e só por isso, desta vez a minha opinião sobre o tema é coincidente com do partido no qual milito. Com muita pena minha ainda não ouvi nenhum dos "entendidos" sobre o assunto a falar sobre ele. Ainda não tive hipótese de agenda. Como tal, esta minha opinião é fruto da leitura da informação do governo sobre o assunto e do meu raciocínio lógico sobre a questão. Não tenho por hábito ler cartilhas partidárias, daquelas que trazem verdades "divinas" sobre determinados temas, oportunamente canonizados.
Atenção que o "mayor" de Esposende é contra a fusão de freguesias! :)
ResponderEliminarConcordo com o post, embora discorde na sugestão (ainda que académica) de fazer de Marinhas e Esposende uma só freguesia. É deixarem-nas estar separadas, senão os clássicos da 3ª divisão já não teriam a mesma piada :)
Falando mais a sério, creio que este é um daqueles temas em que se poderia progredir ao nível do Concelho.
Embora possam alegar que fundir Palmeira e Curvos, Antas e Belinho, - só para dar uns exemplos - não traria uma poupança administrativa e económica significativa, a verdade é que, ainda assim, traria alguma, e num concelho com 30,000 habitantes não fazem sentido tantas freguesias. Outro concelhos com mesmo número de população têm menos freguesias.
E Lisboa é um case-study. Vão reduzir significativamente o número de freguesias sem que houvesse polémicas ou sabotagens políticas.
Era bom que Esposende soubesse fazer o seu próprio trabalho de casa, e não ficar à espera de ver para onde vão soprar os ventos.
Francisco,
ResponderEliminarMarinhas e Esposende não têm grande sentido separadas. E menos sentido ainda tem a existência de uma junta de freguesia na sede do concelho, onde a esmagadora maioria das intervenções correm a cargo da CME.
Quanto às outras, por muito que tente, não consigo perceber tanta aversão que paira no ar. Não vejo onde está o "adamastor"! Não creio que as Moleirinhas passem para a Apúlia e os Sargaceiros para Vila-Chã, nem tão pouco que haja necessidade de ficarmos reféns da história, dessa mesma história que foi feita de evoluções... e no que diz respeito a freguesias, elas mesmas passaram por processos de união e divisão. Porque não virar mais uma página na história e registar este tempo como de mudanças? Desde quando é que alguém decretou que o mapa administrativo era dogma?
Admito que esta minha visão possa estar influenciada pelo facto já ter liderado uma estrutura concelhia e isso me tenha dado uma visão mais do todo e menos do bairro. Gostava de ver o tema ser debatido...