Hoje é dias das pessoas com deficiência, pelo menos era o que dizia a nota de rodapé da SIC.
Pessoalmente detesto este tipo de notícias. Fazem campanhas, acções de sensibilização, gestos bonitos... mas no fundo é só hoje.
Amanhã, as pessoas com deficiências continuarão a andar na rua e a passar esquecidas entre a multidão. Continuarão a circular nas faixas de rodagem das ruas com cadeiras de rodas pois as medidas dos passeios nem sempre são “generosas” ao ponto de permitirem a circulação de uma cadeira de rodas, a subir degraus para chegarem aos passeios, a palmilhar o chão com uma bengala na tentativa de se orientarem quando são privados de visão não deixando no entanto de embater em caixotes do lixo e placas “estrategicamente” penduras e como tal indetectáveis, a subir rampas com 15% de inclinação para chegar a serviços públicos, a sonhar chegar a uma caixa multibanco, a fazer compras sem ler os preços, a abrir portas sabe Deus como nos casos em que faltam as mãos, enfim... continuarão a viver com “coragem de leão” perante “bonitos gestos de caridade vazia”.
Às vezes interrogo-me na tentativa de perceber se o esquecimento a que deixamos os nossos deficientes é apenas uma forma de exercitarmos esse sentimento tão nobre de “pena” praticando uma suposta “boa-acção” do dia, o nosso gesto de caridade.
Ficamos felizes se ajudamos alguém a subir uma rampa em cadeira de rodas, alimenta-nos o ego pensar que ajudamos alguém... mas... será que ajudamos? Será que ajuda não seria reivindicar acessos dignos que todos pudessem subir sem dependerem de terceiros? Fazer quem de direito perceber que a pessoas são livres de ir onde querem sem que para tal precisem de esperar pelo próximo transeunte disposto a “dar uma mãozinha”?
Será que a grande maioria das nossas passagens de peões se coadunam com limitações visuais?
Será que por causa da gripe A gastamos milhões mudando sistemas de aberturas de portas mas por causa de um deficiente não conseguimos gastar 10 euros?
“Ah e tal” é bonito aquele slogan “todos diferentes, todos iguais”... e é da moda a igualdade de direitos dos gays em questões de casório... onde pára essa igualdade afinal? Somos uns mais iguais que outros mais diferentes?
Ou será que entre tantos “sem pernas”, “sem braços”, “sem visão” ... a decisão final cabe sempre aos “sem cabeça”?
Bem vistas as coisas, o “Estado é laico” mas dava um jeitão enorme que Cristo viesse a Portugal e curasse essa gente toda... poupavam-se uns euros, continuavamos “todos diferentes, todos iguais” e o dia de hoje seria apenas um dia como o de ontem e o de amanhã – mais um dia de indiferença.
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