Depois de uma semana atolada em trabalho, hoje comecei a semana com o ritmo mais aceitável e no meio disto lá vim dar um saltinho ao 7folhas e partilhar convosco as "Crónicas" da semana!
1.º - Sábado tive o prazer de representar mais uma vez a peça "Coração Lusitano", desta vez no palco do auditório municipal de Esposende, que estará disponível no site da www.esposende.tv, e que recomendo. Somos um pequeno grupo amador mas capaz de entreter quem nos assiste com o maior respeito e dedicação que conseguimos dar de nós.
2.º - Ouvi dizer que o Prof. Marcelo ponderou não ser candidato à liderança do PSD!! Quem diria!! Uns ponderam ser candidatos, outros ponderam ser "não candidatos".
3.º- O ESCÂNDALO:
Permitam-me que nas linhas que se seguem seja politicamente incorrecto. Na minha terra diz-se "quem se farta são os burros", todavia, permito-me assumir-me farto e inverter o dito dizendo que quem não se farta são os burros.
Será possível continuarmos a assistir impávidos aos filmes em torno do nosso Primeiro Ministro? Depois de Independente, de Freeport, de apartamento da mãe, de primos importantes, de amigos influentes, agora... agora... é de sucatas que se trata?
Será que entre tanto doutor e engenheiro o único desonesto é o pobre sucateiro?
Mas que país é este? É um país de igualdade? Ou um país de bôbos, de burros e de murcões?
Eu sempre ouvi dizer e acredito piamente que um título não serve de nada. As pessoas valem pelo que são e a sua competência não se afere por dr.s e eng.s antes do nome, por isso continuo sem perceber os tabus que se fazem em torno do título de certas pessoas e a necessidade que alguns têm de dizer que são o que na verdade não são, de usarem de estratagemas para chegar sem trabalho onde outros chegaram com muito esforço.
Pior que tudo, como se não bastasse o escândalo de termos gente com títulos falsos, com licenciaturas domingueiras, agora temos um personagem que conseguiu ser pós-graduado antes de ser graduado!!! Pasmem-se!! Que país é este? Ou melhor, que República das Bananas é esta? Será "das" ou "dos"?
Será que vivemos num país de novas oportunidades? Em que cada brecha no sistema é uma nova oportunidade para os "chicos-espertos" furarem o esquema e mamarem no povo? Ao que parece as oportunidades são novas já os larápios são sempre os mesmos!
É uma pouca vergonha este país! Vive-se de "connections" e ou se é "amiguinho" de quem tem ou poder ou se é pobre desgraçado que trabalha de sol a sol para ganhar o salário mínimo enquanto os tipos das "connections" andam por aí a passear-se em belos carros e a receberem malas com € só "por consideração"!!
Ai de nós pensarmos que algum dos suspeitos é culpado!! É tudo gente séria!!! Honesta é que... talvez não tanto.
No meio disto tudo, o que me chateia é saber que isto rolará como rola o processo Casa Pia...
e que vou continuar todos os dias a acordar e a começar o dia de trabalho a pensar que continuo a acreditar na justiça, que todos os homens são iguais perante a lei, que ninguém é mais ou menos digno por usar fato, gravata, calças rotas, roubar, matar... enfim... aquela teoria bonita que plasmaram na Constituição para que o povo soubesse que a liberdade e a democracia são apenas poesia, na sua essência... são apenas uma bíblia socialista escrita com o mesmo tipo de metáforas...
Não acreditam?
Não será caso para dizer que passa mais depressa um camelo pelo buraco de uma linha numa agulha do que o povo português fica a saber para onde foram para as linhas e agulhas de uma suposta linha de comboio que desapareceu?
E pronto... por aqui me basto, chateado, profundamente chateado com a incapacidade de mudar as coisas sozinho. Em boa verdade, antes sozinho por convicção do que rodeado de judas de ocasião - sim, porque "eles andem aí" raivosos!!
"Um povo imbecilizado e
ResponderEliminarresignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de
carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de
vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de
dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é
capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante,
não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro,
porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua
inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma
nacional,
reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal,
sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que,
honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em
pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a
infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde
provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral,
escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do
moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação
unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de
fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo
utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos
actos,
iguais um ao outro como duas
metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo,
apesar disso,
pela razão que alguém deu no
parlamento,
de não caberem todos duma vez na
mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.