segunda-feira, 25 de julho de 2011

Caminho

Acabou à momentos a cerimónia de assinatura do protocolo referido na imagem. Tive oportunidade de estar presente e ouvir o que lá foi dito.
Umas breves notas sobre o assunto me ocorrem.
Primeiro é digno de registo e parabenização a intenção dos Municípios envolvidos em apostarem na dinamização do Caminho e da criação de condições para apoio aos peregrinos. Este seria o registo bastante positivo a reter. Gostei também da intervenção da pessoa que apresentou as linhas gerais do projecto (e cujo o nome não retive) - em boa verdade foi uma intervenção clara e demonstradora de conhecimento da causa.

O ponto negativo... diria que um apenas em tudo isto... e que... de forma cruel deita tudo a perder: a visão do Caminho de Santiago como produto turístico! Pode parecer contra-senso mas... depois de uma abordagem clara sobre necessidades deste tipo de aposta (cujo diagnóstico é relativamente fácil para qualquer peregrino: definir a rota - sinalizar a rota - criar pontos de descanso e apoio - criar pontos de dormida - criar guias com informação exacta sobre distâncias e serviços ao longo do Caminho para melhor planeamento de etapas - sinalização de "pontos a visitar" nas imediações do Caminho ... entre outros) terminar defendendo a promoção do Caminho enquanto "pacote turístico"... demonstra de forma clara e inequívoca porque é que uns são técnicos/doutores e outros são tão só peregrinos! O Caminho não é e não deve ser nunca um pacote turístico! Diria mesmo, é heresia tratá-lo como tal.

O Caminho de Santiago deve ser protegido sim, deve ser desenvolvido... mas não para um público "turista"... esses são os turigrinos não os peregrinos! Deve haver informação sim, um bom site e boas brochuras... mas não um pacote turístico! O "instinto peregrino" é algo bem diferente! É alguém que sabe o que quer, que procura informação! Deve haver essa informação para que quem queira percorrer um Caminho possa incluir este na hora de ponderar qual trilhar... mas não deve essa informação ser confundida com um chamariz! Isto até porque as exigências de um turista são sempre mais que as de um peregrino! Ou bem que desejamos um Caminho turístico, repleto de mordomias para dar boa imagem... ou bem que investimos num Caminho de apoios dignos mas onde frequentemente o "público alvo" se sente plenamente realizado com um colchão limpo e um duche quente.

Espero não ser mal interpretado, apenas compreendido! O Caminho de Santiago não é pacote turístico, sob pena de em pouco tempo começarmos "uma guerra" entre municípios nas máquinas de marketing "o meu Caminho é melhor que o teu"!

Apoie-se sim... os inúmeros voluntários amigos da causa. Mas deixe-se de parte a ideia de "necessidade de retorno"! Nada melhor que construir um albergue como se fosse o pagamento a uma banda para tocar 1h30 numa noite de verão... na certeza de que o albergue fica.

E aqui, seja feita justiça à Câmara Municipal de Esposende, à Junta de Freguesia de Marinhas, à Cruz Vermelha de Marinhas, à Via Veteris e àqueles que a estes se associaram ... porque tiveram a coragem de dar o enorme passo de criar um albergue! E provaram que quanto há boa vontade não é preciso: anunciar obra, promover obra, fazer alarido... e inaugurar! Foi tudo muito mais célere e discreto: e "a obra nasce"... e é lindo o nosso albergue :) E assim se requalificou um espaço de enorme importância e simbolismo para a freguesia de Marinhas, com outra utilidade igualmente nobre.

E por aqui termino, não com o conhecimento académico da matéria... apenas com os kms de quem já percorreu o Caminho Português três vezes de bike, o Caminho Francês (parti sozinho e em autonomia total), o Caminho para Fátima a pé e em bicicleta... e que anda por aí e pára para conversar sempre que vê um peregrino (nem que seja para perguntar se precisam de algo).

Não somos peregrinos só quando partimos... mas sempre que Caminhamos.


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